sábado, 10 de maio de 2014

Vinicius de Moraes - Minha Mãe - Carlos Drummond de Andrade - Para Sempre - Uma Homenagem á Todas as mães do universo -



Para Sempre

Por que Deus permiteque as mães vão se embora?
Mãe não tem limite,é tempo sem hora,luz que não se apagaquando sopra o ventoe chuva desaba,veludo escondidona pele enrugada,água pura, ar puro,puro pensamento.Morrer acontececom o que é breve e passasem deixar vestígio.Mãe, na sua graça,é eternidade.Por que Deus se lembra- mistério profundo - de tirá-la um dia?Fosse eu Rei do Mundo,baixava uma lei:Mãe não morre nunca,mãe ficará semprejunto de seu filhoe ele, velho embora,será pequeninofeito grão de milho.

Carlos Drummond de Andrade.


Minha mãe, minha mãe, eu tenho medoTenho medo da vida, minha mãe.Canta a doce cantiga que cantavasQuando eu corria doido ao teu regaçoCom medo dos fantasmas do telhado.Nina o meu sono cheio de inquietudeBatendo de levinho no meu braçoQue estou com muito medo, minha mãe.Repousa a luz amiga dos teus olhosNos meus olhos sem luz e sem repousoDize à dor que me espera eternamentePara ir embora.  Expulsa a angústia imensaDo meu ser que não quer e que não podeDá-me um beijo na fonte doloridaQue ela arde de febre, minha mãe.
Aninha-me em teu colo como outroraDize-me bem baixo assim: — Filho, não temasDorme em sossego, que tua mãe não dorme.Dorme. Os que de há muito te esperavamCansados já se foram para longe. Perto de ti está tua mãezinhaTeu irmão. que o estudo adormeceuTuas irmãs pisando de levinhoPara não despertar o sono teu.Dorme, meu filho, dorme no meu peitoSonha a felicidade. Velo eu
Minha mãe, minha mãe, eu tenho medoMe apavora a renúncia. Dize que eu fiqueAfugenta este espaço que me prendeAfugenta o infinito que me chamaQue eu estou com muito medo, minha mãe.


Vinicius de Moraes - Minha Mãe.